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A mostrar mensagens de dezembro, 2007

Fernando Pessoa

O Tejo é mais Belo O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele. Fernando Pessoa

Um poema simplesmente fenomenal

Ocaso no Mar O céu a valva azul de uma concha semelha De que outra valva é o mar ouriçado de escamas. No ponto de junção, o sol - molusco em chamas - Do bisso espalha no ar a incendida centelha. Listões de intenso anil, raias de cor vermelha, Grandes manchas de opala, arabescos e lhamas, Da luz todos os tons, da cor todas as gamas Vibram na valva azul que a valva verde espelha. Mas todo este fulgor esmaece e se apaga. Tímido, o olhar do sol bóia de vaga em vaga, Porque uma sombra investe a sua concha enorme. É a noite: como um polvo, insidiosa, se eleva. Desenrola os seus mil tentáculos de treva: E o sol, vendo-a crescer, fecha as valvas e dorme.